terça-feira, 26 de junho de 2018

Em tempos de Copa precisamos apoiar ou criticar?




Embora estando no título deste post, a Copa do Mundo não é assunto principal desta reflexão que proponho, mas é um assunto afetado consideravelmente por ela.
Para quebrar um pouco da overdose de futebol passei a assistir a série espanhola “El ministério del tiempo" no Netflix. Trata-se de uma organização secreta do Governo Espanhol que pode viajar no tempo e sua missão é garantir que não haja alterações na história.
Não se preocupem que não vou dar spoiler.
O que posso dizer sem problemas é que trata-se de uma obra de ficção de boa qualidade, apesar de ter um argumento clássico da ficção. A viagem no tempo com agentes que devem protege-lo de vilões que tentam alterá-lo em seu benefício.
O que chama a atenção nesta série é o fato de como os Espanhóis, pelo menos na série em questão, conseguem tratar de sua história de forma madura, sem ser ufanista mas também sem serem críticos de forma exagerada.
Através de um personagem, que era soldado quando a Espanha era o principal império do Mundo, ocupando o lugar que hoje é do tio San dá-se a crítica. Alonso de Entrerríos Fresneda, não consegue entender como a Espanha atual é menos importante do que a França, ou como a Democracia funciona e ainda menos o voto feminino.
Em diálogos de Alonso com personagens da atualidade, como o Médico Júlian Martínez entre outros, as comparações são inevitáveis e as vezes de forma até jocosa o antigo soldado solta frases como “agora entendo por que não somos mais um império”.
Ao mesmo tempo que tiradas, as vezes sarcásticas, fazem o papel da crítica a série também ressalta fatos importantes de fato na história espanhola. Uma das personagens principal é Amélia Folch, a primeira mulher a frequentar uma Universidade na Espanha. Todos os grandes artistas espanhóis aparecem na tela. Temos o prazer de ver Picasso, Goya, Velasquez, Lope de Veja, Cervantes e personagens políticos como Spinola, a Rainha Isabel a Católica e mesmo o lendário El Cid. Todas as aparições tendo a ver com a trama geral da série e sem endeusar os personagens mas tratando suas obras com a devida importância para a história e a formação cultural e política da Espanha e tratando de como seriam os dias de hoje sem esses personagens históricos ou com a história destes sendo alterada. Alguém consegue imaginar a Espanha de Hoje sem o quadro Guernica, de Picasso, considerado símbolo da nova Democracia espanhola?
O que quero dizer com isso e aqui entra a Copa do Mundo em questão é: Por que nós, Brasileiros não conseguimos ponderar a nossa história ou o nossa atualidade?
Aqui pelo geral quando falamos de história vamos a um extremo ou ao outro. A Série que conta a história dos maiores empresários brasileiros, feita pelo History Chanel, por exemplo é uma verdadeira ode aos personagens que são apresentados praticamente como seres sem defeitos.
Já a Rede Globo produziu certa vez a série Quinto dos Infernos, que narrava as aventuras da Família Real portuguesa quando esta se transferiu para o Brasil fugindo da invasão de Napoleão. Foi ao outro extremo. Ao invés da série tratar do grande diferencial obtido pelo Brasil na época, pois foi a única colônia que recebeu seu Rei como novo morador e desde então deixou de ser colônia e passou a ser Reino Unido a Portugal, fato que por exemplo não aconteceu com nenhum dos países de língua espanhola, francesa ou inglesa da América ou de qualquer outro continente. Até os dias atuais, Don Pedro foi o único monarca europeu a ser coroado fora da Europa.
O Brasil teve um grande avanço nessa época. Passou a ter um Banco, Universidade, urbanização da Capital Rio de Janeiro mas nada disso foi o tema principal da série. Ao contrário, preferiu a Rede Globo focar mais na vida íntima e cheia de traições do Rei, do Príncipe e as peripécias da corte em geral. Era uma tragicomédia eu diria.
E no futebol se dá a mesma situação.
É Copa do Mundo. Outra somente em 2022!
Necessitamos sermos torcedores incondicionais e vincular a torcida pelo nosso time nacional de futebol ao patriotismo?
Precisamos, para termos consciência crítica, torcer contra o Brasil? Transferir para o time de futebol toda a culpa por tudo o que não está certo no nosso país?
Nem uma coisa e nem outra. Podemos e devemos, de uma vez por todas, sermos um pouco menos sentimentais nas nossas análises, sejam sobre nossa história, nossa política ou nossa posição frente a nossa equipe de futebol.
Necessitamos de ponderação, de tratar os fatos de maneira menos apressada. De não julgar pela primeira opinião. Não temos que ser tão rápidos no gatilho do rótulo e disparar, é isso ou aquilo é!
Quando formos capazes de fazer isso veremos o quão rica é a realidade e quantas multifaces deixamos de perceber.
Quero que o Brasil corrija todos os seus rumos, principalmente na questão da desigualdade social e econômica e quero que ao mesmo tempo sejamos mais uma vez os Campeões do Mundo de Futebol. Uma coisa não excluí a outra!



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