sábado, 31 de março de 2018

Papo de sábado



Chegou a mim, por que meios não sei, a informação sobre uma conversa que aconteceu no sábado de aleluia, o primeiro deles. Aquele sábado entre a sexta e a crucificação de Jesus e o Domingo de sua ressurreição.
Para facilitar o entendimento do diálogo tive a liberdade de transpor os termos da conversa para o vocabulário atual.
Estão na frente de casa,dois habitantes de Jerusalém. O primeiro diz:
-Então vizinho, como é que vai?
-Eu bem, e tu?
-Vamos indo, sabe como é. Agora não bastasse os problemas que a gente já tem e a minha filha ta trancada no quarto chorando?
-Por quê?
-Como por quê? Não sabias que ela seguia o Nazareno que crucificaram ontem.
-Ah é? Crucificaram aquele cara? Mas por quê?
-Pô tu não sabias? Aonde andavas?
-Eu tive que dar um pulo em Jericó, acabo de chegar. Mas me diz por que o crucificaram?
-Olha, tu sabe que em se tratando de crucifixão os Romanos são fanáticos. Não precisa muito.
-Bom isso é verdade? Mas o que alegaram?
-Pois isso é o mais estranho. Dizem que não foram os Romanos mas que foi uma intriga do Kaifás.
-Hum, esse velho matreiro.
-Pois é, mas também me disseram que foi o Herodes.
-Não esse não. Nem parece Rei, ta mais preocupado em beber e vadiar. É um fantoche dos Romanos.
-Nisso eu concordo, mas sabe como é a política...
-Bom... É mas o Herodes?
Nisso chega uma terceira pessoa, bem mais jovem e entra na conversa:
-Desculpe me meter, mas onde fica o mercado?
-Segue até aquela casa, pega a esquerda e vai sempre.
-Valeu. Disse o transeunte e saiu a passos.
Nisso os vizinhos seguem conversando:
- Mas me diz uma coisa, como está a tua filha, coitada?
- Mas ta arrasada. Acreditas que ela dizia que ele era o cara pra tocar com os Romanos daqui?
-Mas que bobagem. Se uma vez eu vi uma palestra desse cara e ele é pacifista.
-Ah tu viu foi?
-Ví sim, lá na montanha. Tava no fundo não escutava muito bem o que ele falava. Fosse em um teatro Grego seria melhor.
-Ah com certeza, uma vez vi uma peça em Antioquia, que maravilha. Tava lá no último degrau e escutava tudo. Esses Gregos são uns arrogantes mas em matéria de teatro... mas conta aí  que dizia este maluco?
-Olha tu sabes que até que tinha algum fundamento. Era um lance mais espiritual e tal. Dizia que a nossa liberdade dos Romanos estava dentro de nós. No nosso pensamente, na nossa fé.
-Sério? Mas isso tem fundamento é para ti. Imagina só Liberdade no pensamento. Ah, para. Chega um Romano com a espada dele e zap, adios pensamento.
-Pois é, mas sabe como é esse pessoal espiritual. Vá que tenham razão?
-Acho brabo. Olha a Ester aí dentro, lhe dei um nome de uma heroína e de que adiantou? Entrou nessa de espírito pra cá e pra lá e só faz chorar e chorar. E não sabes da pior?
-O que?
-Agora de manhã, no café, venho com uma que o Nazareno morreu mas não morreu.
-Como assim?
-Diz que ele voltará dos mortos, pois é filho de Deus.
-Filho de Deus?
-Isso.
-Bah, quando lembro das cobranças que meu pai me fazia... coitado desse cara se for mesmo filho de Deus.
-Hahaha, boa essa.
-Mas é verdade. Olha tchê teve uma vez que tomei uma surra por que não coloquei a túnica que ele mandou. E olha que era feia a túnica tchê. Que velho malvado, mas era bom ao mesmo tempo. Fazia tudo pra gente.
-De que morreu o teu pai afinal?
-Ah deixa, ia daqui para Jericó para ver o meu avô e uns bandoleiros o assaltaram e o mataram. Tentei ir atrás deles, mas não tinha um tostão para pagar os mercenários. Mas ainda pego esses caras, eu sei quem são. Mas e a história do Nazereno voltar.
-Pois é diz que volta dois dias depois da sua morte, ou seja, amanhã.
-Hum, amanhã vou la ver a tumba. Aonde é?
-É tumba do Arimatéia.
-Ah sim, do ricaço aquele. Mas onde fica?
-Olha nem sei direito, mas vai com a minha filha, é certo que ela vai.
-Sabe que agora me ocorreu uma coisa?
- O que?
-Será que daqui a um ano alguém se lembra desse cara?
-Tchê, crucificam tanta gente que eu te digo sem medo de errar. Acho que não!
Nisso salta de dentro da casa a filha e diz:
-Pois fiquem sabendo que ele será lembrado para sempre. Daqui a milhares de anos falarão no nome dele e haverá festa no dia do seu nascimento e de sua morte. Após falar isso a jovem entrou novamente para dentro de sua casa e bateu a porta.
-Mas que raiva esta tua guria?
-Sabe como é a gurizada sempre querendo mudar o mundo.
-Bueno me diz uma coisa que ficou para traz na conversa.
-O que?
-E o Pilatus nisso tudo? O que fez?
-Humf, como bom político se lavou as mãos.
-Bom tenho que ir ao centro, até mais.
-Até mais. Tchau.

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