sexta-feira, 3 de agosto de 2012

“Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer”



Por Cláudia Schwab

        Um grande amigo e um dos diretores de teatro com quem gosto de trabalhar, mergulhão da Coxilha (que tem aqui o mesmo sentido de “carioca da gema”), morou 15 anos no Rio de Janeiro. Fez teatro, cinema e televisão, deu aulas de teatro pelo Brasil afora, lecionou em universidades, fez amigos. Pois estes amigos, há tempos pedem a ele que dê ao Rio o prazer de rever seu trabalho, que lhes permita o prazer de revê-lo. E por convite destes amigos, que conhecem e reconhecem suas qualidades no palco, conseguimos um belo espaço cênico, alternativo, para não mais que três funções de nosso último trabalho. E depois de meses de preparação (pois conseguir um espaço no Rio de Janeiro não é fácil), lá fomos nós, eu e meu diretor, em pleno frio de julho, rumo à antiga capital federal. Antes disso, batalhar apoio financeiro para pagar a viagem, que tirar dinheiro do próprio bolso para fazer teatro também faz parte do dia-a-dia dos amantes da arte por aqui. Não queríamos isso, não podíamos dar-nos a este luxo. E conseguimos! A viagem pagou-se e somos gratos a quem acreditou (por conta disso, o público da região terá várias oportunidades de assistir ao espetáculo, pois esta é parte de nossa contrapartida pelo apoio recebido).
         O resultado disso tudo? Gratificante! Nosso pequeno, mas seleto público carioca se compôs essencialmente de gente de TV e teatro. Amigos, amigos dos amigos. A recepção ao trabalho foi excelente. O teatro que fazemos aqui, no extremo sul do mundo, distantes do eixo cultural Rio/São Paulo, foi assimilado com prazer e respeito. E foi admirado e elogiado. Muito. Todo artista é vaidoso, e gosta do aplauso. Voltei feliz e orgulhosa de mim mesma, de nós. Enquanto isso, aqui, euforia geral. O povo santavitoriense alegrou-se por nós. Todos aqui nos desejando saucesso, gente que inclusive, nunca vi em nossas platéias. E fizemos sucesso. Tivemos reconhecimento, merecido – sem qualquer resquício de falsa modéstia, que não sou disso – pela qualidade e pelo diferencial de nosso trabalho. Mas o tempo todo, durante os preparativos da viagem, durante a viagem e mais ainda, no retorno, algo em meu coração apertava. Era a vontade de estar aqui. Em minha aldeia. O desejo ardente de perceber esta euforia de nosso público pelo nosso palco. Para mim, O Grande Palco. O palco do Teatro Independência. O palco da minha aldeia... Poder ser aplaudida aqui, poder aplaudir aqui, o trabalho de outros artistas, vindos de outras cidadess, outras aldeias. Porque eu quero mundo, sim, mas eu o quero a partir daqui... E os deixo com Fernando Pessoa. Até outro dia.

DA MINHA ALDEIA- Alberto Caeiro

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Um comentário:

  1. Lindo ovacionado, Cláudia. Teu artigo transcende a linha de tempo e, em particular, nos situa no espaço-tempo da sintonia em que tu e Joca nos permitem vivenciar.

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