TAVA PENSANDO

E DEPOIS NÃO SABEM POR QUÊ?

Quando era criança costumava, é claro, sair com minha mãe. Lembro que sempre que passava um carro ou moto em alta velocidade por nós ele sempre dizia a mesma frase:
-Depois morre e ninguém sabe por quê?
O mesmo vale para a violência escolar que só faz aumentar. Vivemos em uma sociedade extremamente violenta porque apenas os mais jovens não seriam. Desde crianças aprendemos que temos de lutar por nossas coisas, nossos ponto de vista, nossos bens.
Somos sempre levados a desacreditar no Estado, na polícia, na justiça, em fim em toda e qualquer solução que não parta de nós mesmos. Se bem que nos tempos atuais... Mas não está em questão à capacidade ou a competência destes e sim a ação das pessoas.
O chamado “ser civilizado” não age por impulso, não faz justiça com as próprias mãos. Em tendo algum problema que lhe cause desvantagem ou dano, seja seu ou de seus pertences, procura estabelecer uma reparação através de meios que devem ser respeitados por todos.
Tivemos no Brasil, recentemente, um plebiscito sobre as armas e elas venceram. A maioria das pessoas decidiu que queriam ter armas ou a possibilidade de ter. Para que? Ora quem tem uma arma tem por que acha que vai usá-la. Não tapemos o sol com a peneira, a arma é para resolver os problemas com as próprias mãos. É para sermos mais bárbaros.
O que dizem as crianças os pais? Como as instruem a agir, á na primeira série do Ensino Fundamental, no caso de um desentendimento com o coleguinha? Sei que muitos mandam os filhos se reportarem a professora, que no caso deve fazer o papel do Estado e resolver a situação, mas muitos, e mesmo sem dados arrisco dizer a maioria, mandam que a criança revide. E se ela não tem capacidade física para isso não faltará um irmão, primo ou amigo maior que o ajude na tarefa. Isso quando não for o próprio pai.
Esta violência está nossa cultura, por isso me causa constrangimento mas nunca surpresa esta crescente. Plantamos isso desde sempre. Sei que a maioria apóia esta visão de se defender com as próprias mãos, tudo bem é um direito apoiar o que quiserem, mas por favor depois não se façam de perplexos e desentendidos fazendo perguntas do tipo: “Nossa, mas como foi acontecer uma tragédia dessas? Como uma criança tem uma arma? Como um adolescente mata colegas e professores?”
Quando vejo as pessoas a favor deste tipo de ação, me lembro de minha mãe e digo:
-Depois acontece uma tragédia e ninguém sabe por quê?